Crônica: O tempo não para

O tempo não para, mas às vezes os homens são mais rápidos que o tempo. Suas trajetórias são sempre dependentes das excentricidades do tempo, porém, em certos momentos, um movimento não precisa do aval dos minutos, dos segundos.

Assim eu vi Allan Finfou voando com a velocidade dos milésimos de segundo, sem ao menos aguardar ou levar em consideração os dez minutos disponibilizados para desfilar sua arte. Voou e surpreendeu o adversário como o vento surpreende a árvore à chegada da frente-fria.

Mas ao voar, Finfou encontrou uma barreira, um forte, um ponto de energia concentrada chamado Lendro Lo. Finfou teve a necessidade de voltar, girar, buscar outro caminho, sem encontrá-lo. A luta recomeça no meio do tatame, assim como o minuto recomeça a cada 60 segundos.

Olhos nos olhos, dança, pegada e finta. O tempo não para. Quimono não é lenço: Leandro aprendeu da pior forma. O ataque nas pernas foi a reação de um corpo altamente treinado e concentrado. A queda inevitável transforma-se em revés no placar. O tempo é curto, é preciso recuperar.

Respiração, pegada, vamos pensar. Mão na manga, mão na boca da calça. Ataque e defesa constantes. A cena é uma aula prática de jiu-jitsu, de como ser campeão com autoridade. O tempo agora parece dar as cartas ante à respiração pesada dos dois guerreiros que se apresentam à sua frente. Movimentos telegrafados, mas um detalhe não muda: aquela pegada na manga esquerda. Por quase um minuto, a manga esquerda foi dominada.

Usar a força do adversário a seu favor: uma das premissas básicas do jiu-jitsu. Sem muito esforço, Leandro, por baixo, inverte o jogo de Allan, já sentado e desequilibrado. Mas a guerra não está ganha. O tempo ainda corre, é preciso definir.

Allan está vulnerável, mas é nesses momentos que um guerreiro pode surpreender. Ele busca derrubar o oponente, que se defende como pode, tentando equiparar sua força à do adversário. Leandro neutraliza os ataques e o tempo dá uma brecha: é hora de respirar.

Novo minuto, novo recomeço. Mais uma vez, a pegada na manga esquerda. Com este instrumento, Leandro começa a construir seu caminho para vencer os adversários: Finfou e o tempo. O cansaço existe, mas é domado. É hora de partir para o ataque, raspar e ficar por cima. Finfou tenta reagir, busca as pernas. Primeira a direita, depois a esquerda. Prepara um contragolpe, explode, procura a virada.

Com um olhar, Leandro pede orientação. Lampejo de ideia, movimento simples, lapela pela nuca e estabilização da passagem. Mais uma brecha do tempo, momento de respirar e largar o peso.

O tempo, cruel e implacável, define sua vítima: Finfou. Em inferioridade no placar, não há muitos minutos para a virada fria e calculada. Allan coloca o coração na frente e parte para sua última cartada. Não dá certo.

No movimento final, Leandro impõe-se nas costas, busca o pescoço, controla as ações e não há mais chances para Finfou.

Leandro venceu o tempo, finalizou o adversário a quatro minutos do fim.






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