Quem não conhece o dia a dia do jiu-jitsu e está começando agora no esporte certamente não conhece todas as federações e confederações oficiais que regulamentam o esporte. Parece que existem diversas vertentes ou modalidades, mas não se engane, é tudo jiu-jitsu, o mesmo bom e velho jiu-jitsu brasileiro.
Até que ponto essa salada de instituições atrapalha nosso esporte?
Na minha opinião, atrapalha muito. Até consigo entender as boas intenções que estão por trás da existência de todas essas entidades. Sei que cada criação de uma nova federação representa um movimento de determinados grupos no intuito de desenvolver o esporte. O problema é que quanto mais dividida a organização do esporte, mais difícil será torná-lo uma modalidade com alcance mundial.
Mas, vamos passear um pouco pela história e possíveis causas de tanta divisão.
A primeira federação foi criada na década de 1970 pelos grandes mestres fundadores Carlos e Hélio e foi denominada Federação de Jiu-Jitsu da Guanabara, que posteriormente tornou-se a FJ-J Rio. Ela organizou os primeiros campeonatos oficiais, quando Carlos e Hélio tinham lugar cativo em cadeiras na primeira fila, defronte ao dojô.
Por essa época, com os resultados variados das competições, surgiram rivalidades e divisões no esporte. Enquanto a família Gracie exercia o controle da federação e regulamentava regras e procedimentos, outros grupos entendiam que o esporte já tinha há muito ultrapassado as barreiras familiares e queriam também dar as cartas no desenvolvimento e organização do jiu-jitsu.
Aos poucos, tanto no Rio de Janeiro, reduto dos Gracie, quanto no restante do país, foram surgindo variadas entidades. Algumas simpáticas e parceiras da FJ-J Rio, outras, de oposição. Na cidade de Niterói foi criada, nos anos 1980, a LERJJI - Liga do Estado do Rio de Janeiro de Jiu-Jitsu, responsável por criar competições que se equiparavam aos da FJ-J Rio em importância e participação de atletas. Em outros estados, as federações foram sendo criadas e organizadas.
Em 1991 surgiu a primeira entidade em nível nacional: a Liga Brasileira de Jiu-Jitsu. Depois veio, 1994, a CBJJ, aquela que ao meu entender é a principal, sendo reconhecida inclusive pelo Comitê Olímpico Brasileiro. No final dos anos 1990, a CBJJ organizou os primeiros campeonatos mundiais de jiu-jitsu. Posteriormente, serviu como base para a criação da IBJJF, que atualmente é a responsável por organizar o campeonato mundial com maior participação de atletas das mais variadas nacionalidades.
Por fim, também com representatividade nacional, vieram a CBJJO, em 2002, a CBJJE, em 2007, e, por último, a recém-fundada Confederação Brasileira de Lutas Profissionais (2013).
Citei essas instituições porque são as que organizam "Campeonato Brasileiro", "Copa do Brasil", "Copa do Mundo", "Campeonato Mundial" etc.
E o resultado? Por ano, temos mais de 100 campeões mundiais de jiu-jitsu, o que desvaloriza, muito, o título de cada atleta. É uma pena. O atleta tem todo o direito se declarar campeão mundial, independentemente de qual federação organizou o evento ou de quantos países participaram. A culpa não é dele.
O principal problema é a falta de um consenso em torno do esporte, agravado pelas rivalidades históricas que começaram no tatame décadas atrás. Esse panorama dificilmente será alterado. Havendo uma confederação unificada, as disputas seriam muito mais emocionantes, os títulos, muito mais valorizados. As técnicas de treinamento evoluiriam e as empresas estariam muito mais dispostas a investir no jiu-jitsu. Havendo uma confederação nacional unificada, as que já existem poderiam transformar-se em ligas fortes e organizadas, com rankings fortes. Será que é sonhar muito? Um exemplo dessa realidade é a já citada LERJJI, que possui uma competição forte sem, contudo, suplantar em autoridade a federação estadual, e sim caminhando lado a lado e fortalecendo as equipes e atletas.
Uma possível solução seria uma intervenção de um órgão regulamentador maior, como o Ministério dos Esportes. Porém, o Ministério aceita a homologação de novas federações simplesmente com pequenas modificações de nome, como "Olímpico", "Esportivo", "Desportivo" etc., sem levar em consideração que as diferenças estão apenas no nome das entidades e que o esporte é o mesmo: jiu-jitsu. Uma vez que possui a regulamentação do Estado, as entidades têm todo o direito de organização suas competições nacionais e internacionais.
Ou seja: diante do pedido de oficialização de novas entidades, deveria haver um critério rigoroso que impedisse a criação do novas federações e confederações. Tenho certeza de que se alguém quiser criar uma nova confederação de futebol ou vôlei, por exemplo, vai dar com a porta na cara...
Enquanto a organização e a regulamentação for dividida, os atletas podem até ganhar os diversos campeonatos nacionais (muitos com atletas de apenas 5 a 10 estados) e campeonatos mundiais (muitos com 90% ou mais de competidores brasileiros...), mas o jiu-jitsu sai perdendo, finalizado e sem gás.
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