Fernando Tererê era um ídolo, uma referência, uma unanimidade do esporte. Não conquistou esse patamar com marketing e falação. Dentro do tatame, foi campeão mundial no peso da faixa azul à preta. Simplesmente, dominou a categoria.
Mas Tererê foi do céu ao inferno ao ser atingido por uma doença perigosíssima: a dependência química. Como ele mesmo afirmou, ficou 8 anos sem ao menos vestir um quimono, de 2004 a 2012. Vencida a batalha contra as drogas, após algumas internações e muito apoio de da equipe, Alliance, e ícones do jiu-jitsu como Kyra Gracie, ele retornou. Remontou sua equipe de alunos, faz seminários e disputa competições, reconquistando vitórias.
Tererê ainda não voltou a ser um ídolo, uma referência. Ele precisa reconstruir toda a estrada que já percorreu. Precisa reagir como uma fênix, e todos nós torcemos para que ele volte a ocupar os pódios e as páginas das principais competições e veículos de comunicação. Esse é o círculo virtuoso que todo atleta de alto rendimento busca: vitórias, patrocínios, treinamento, legado. Seus alunos veem ao vivo uma bela história de superação.
Anderson Silva é um ídolo, uma referência, uma unanimidade, e continua sendo a despeito da derrota para Weidman. Ainda não desceu ao inferno. Nem ao menos saiu do céu.
Há poucos dias saiu o resultado de uma pesquisa que apontava os atletas mais admirados e os mais lembrados. Na lista, 4 jogadores: Pelé, Ronaldinho, Ronaldo e Neymar. E um "forasteiro": Anderson. É claro que o resultado reflete o momento presente e a evidência do MMA. Mas é significativo Anderson ser citado e Senna, Guga, Oscar, até mesmo Zico e Romário, outros ídolos do futebol, não.
Anderson tem a responsabilidade de ser um ídolo, muito maior que a de Tererê. Seu esporte é muito mais visto, não só em âmbito nacional, mas no mundo todo. Anderson tem uma imagem, talvez não seja exagero dizer que ele é não só sua própria imagem, mas a imagem do esporte. Um esporte que ainda precisa de aceitação e legitimação, e ainda depende da chancela de grandes empresas e da grande mídia. O sucesso de Anderson traz a reboque outros atletas, equipes e profissionais. Você acha isso injusto? Eu não. Isso ocorre em todas as áreas profissionais, não só no esporte. Isso ocorre até no seio familiar: filhos que tem seus pais ou familiares como ídolos têm meio caminho aberto para o sucesso.
Essa é a responsabilidade do ídolo.
Ao ler uma matéria no jornal, falando justamente sobre a imagem de Anderson, que ficou arranhada, deparei com uma declaração do Marcelo Alonso, do PVT: "Como vou explicar ao meu filho, que é fã do Anderson, que o ídolo dele faz bullying? Porque aquilo que ele fez com Weidman foi bullying."
Ser exemplar. Essa é a responsabilidade do ídolo.
Sou fã do Anderson. Continuo sendo. Mas ficaria muito mais feliz e satisfeito com meu ídolo se ele perdesse como Shogun na luta contra Dan Henderson: com garra, com raça. Aquela luta foi a luta do ano em 2011.
A maneira como Anderson perdeu sua última luta e suas declarações posteriores não condizem com a responsabilidade do ídolo.
Mas sei que ele vai reverter esse momento. Ele é nosso ídolo. Essa é sua responsabilidade.
Oss
Nenhum comentário:
Postar um comentário